Tropeiros percorrem 150 km para ajudar famílias isoladas em Mimoso

Uma semana após o forte temporal que atingiu muitas cidades no Sul do Estado, deixando mais de 18 mortes em Mimoso do Sul e outras 2 em Apiacá, algumas comunidades continuam sem acesso. Em algumas localidades, só é possível ter acesso a pé ou a cavalo.

As localidades de Reserva e Pirraça, no distrito de Conceição do Muqui, no município de Mimoso do Sul, são exemplos desse cenário que mantém a comunidade isolada da sede do município.

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Comitiva Esperança

Sensibilizados com o ocorrido, um grupo de amigos, moradores de Iúna, liderado por Diego Guedes de Morais, se uniram e dentro de dois dias arrecadaram cestas básicas, produtos de limpeza, fraldas e brinquedos para levar aos moradores que continuam isolados no interior do município de Mimoso do Sul.

A Comitiva Esperança, composta por 13 integrantes, saiu de Iúna no feriado de sexta-feira (29) da Paixão, percorreu 150 quilômetros com o destino de desbravar e levar apoio aos mais de 30 moradores que se encontram isolados.

No caminho, encontraram um rastro de destruição e devastação pela força da natureza. Estradas bloqueadas por quedas de barreiras, em outros lugares, nem estrada mais existe. Casas tomadas pela lama e lavouras completamente destruídas pela força da enxurrada.

Entre tantos percalços encontrados, os integrantes da Comitiva Esperança, hora montados em cavalos, burros e até mesmo a pé, realizaram o acesso e encontraram moradores tentando entender o ocorrido.

Vidas marcadas

Daine é moradora da localidade de Reserva, onde a Comitiva esteve prestando assistência aos afetados, e continua sem entender tudo o que ocorreu.

“Cena de terror. O acesso está difícil. Somente chega a cavalo, a pé ou os motoqueiros em meio ao pasto. Não temos água, a energia, graças a Deus, retornou. Aqui está complicado, tivemos muitas perdas”, disse a moradora.

Segundo mencionado por Diego, em alguns momentos tiveram que deixar os animais para trás e seguir a pé, com mantimentos nas costas, até chegar no destino, uma igreja, onde deixaram boa parte das doações para ser distribuídas aos moradores da comunidade.

No trajeto, os tropeiros se depararam com uma comunidade buscando respostas diante de tudo o que ocorreu naquela noite de sexta e madrugada de sábado.

“Aqui está muito difícil. É uma situação que ninguém esperava. Para superar isso, é só pela força de Deus”, ressalta Renato, morador local.

Emocionado, Renato menciona que na comunidade, cinco pessoas morreram devido à forte chuva. E que, na manhã de sábado, ajudou a socorrer vítimas que estavam soterradas pelas barreiras que caíram sobre casas. Neste contexto, conseguiram salvar pai e filho. Nas comunidades desbravadas pelos tropeiros, 7 pessoas morreram devido ao temporal.

Solidariedade

Diego conta que a experiência foi única. Entre os percalços da viagem, carros que estragaram, cavalos que ficaram atolados na lama, faria tudo novamente. Segundo Diego, a motivação veio após ver tantas pessoas perder tudo o que tinham.

“A motivação foi ver tanta gente perder casas, o sustento. Pessoas que vivem das atividades rurais, da agricultura familiar e de repente perdem suas lavouras, casas, carros e até seus entes queridos. E nós estamos aqui em uma região que não foi tão atingida. Vimos que a região parou, não adiantava ter dinheiro, ser pobre ou rico. Naquele momento, somente sobrou o ser humano.”

Diego frisa que ficou incomodado em ver tudo o que estava ocorrendo e se sentiu tocado. Logo mobilizou os amigos Adeildo Guedes, Demétrius, Elias Pãosinho, Dudu do Açougue, Lei Ferreira, Derson Guedes, Erik Filipe, Édson Bidu, Marluse Azzini, Mirela, Ricardo Dercilio e sua esposa, integrantes da Comitiva Esperança para agir e levar suporte para as comunidades de Pirraça e Reserva, em Mimoso do Sul.